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O Milagre de Maria da Piedade
Por Fitini, 30/10/2006 in Chad
Diz o Povo que Deus quando fez o Mundo, no final restavam as pedras e
como não sabia o que fazer com elas, atirou-as para o interior de Portugal.
Curioso que os Gregos, contam exatamente a mesma história, mas dizendo que
as pedras ficaram para eles. Naturalmente esta deve ser a desculpa de todos
os países cujo solo parece ruim.
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Havia uma família de
lavradores que justamente – em agrestes e pedregosas terras, numa aldeola de
bravos e isolados Beirões chamada Toulões, região do interior norte
de Portugal perto da Espanha, cuja capital é Castelo Branco – com as
próprias mãos, arduamente, semeavam o trigo, colhiam-no,
guardavam-no religiosamente e quando em excesso vendiam-no aos menos
afortunados. |
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Pois bem, a
matriarca desta família, uma vez por semana, amassava e cozia o pão para
todos os seus. |
Assim, no verão
(julho, agosto e setembro) uma vez por semana, pegava seu neto mais
roliço às cinco da manhã, lavava-lhe cuidadosamente as mãos e
punha-o em frente da masseira onde repousava a massa para uma dúzia
de pães de 2 a 3 kilogramas cada. Explicava-lhe como se devia, com
os punhos cerrados e numa vigorosa lentidão, amassar o pão. Claro
que o pequerrucho acabou por descobrir que dando uns violentos e
repetitivos |
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socos
na massa ia dar ao mesmo, por fim até se tornou divertido.
Passada uma meia hora, sua avó vinha buscá-lo e metia-o na cama,
donde só saia, com plenos direitos, depois do meio-dia. E, sabiam bem os
louros de ser o herói da família uma vez por semana.
Mas, uma certa madrugada, a desgraça aconteceu: como sempre fazia
colocou o menino em frente da masseira por volta das cinco da manhã e
esqueceu-se de ir lá buscá-lo às cinco e meia… Ele, como já fazia aquilo
mecanicamente quase a dormir, nem deu pelo tempo a passar. Sua avó
apareceu por volta das seis e meia da manhã desesperada a chorar:
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– “Aih filho que
estragámos o pão todo… Aiiihh que desgraça…” – Chorava ela.
Ele, que nunca tinha visto a avó chorar daquela maneira, aí
compreendeu que o problema era muito grave, pois doze pães… era
muito pão, e para uma semana... perdidos!
– “Aaaiiiihh filho o que vão dizer as minhas amigas quando virem
que o meu pão é uma desgraça… Aiiiihhh…” – Chorava ainda mais ela.
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E ele aí
percebeu que o problema ainda era muito maior e que estavam perante
uma catástrofe gigantesca. Porque o forno onde se cozia o pão era o
forno a lenha da aldeia onde todas as mulheres coziam o pão dos seus
familiares. E a qualidade e quantidade desse pão era também a imagem
de marca e de qualidade da própria família, elas próprias com umas
cruzinhas marcavam os pães para os distinguir uns dos outros. Ele,
nos seus poucos anos, não sabia o que fazer para consolar a sua avó,
mas percebia que se o pão em vez de 30 minutos fosse amassado
durante 90 minutos certamente aquilo "iria ser" o pão mais
desgraçado que uma Touloneira jamais alguma vez cozeu. A Maria da
Piedade "iria ser" a risota da populaça, o vexame da aldeola,
provavelmente algumas das outras avós até "iriam deixar de lhe dar
os bons dias"… E a culpa também era dele, pois ele era o próprio
instrumento de tão vil crime.
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Pois bem, a corajosa
Maria da Piedade meteu-o na cama, moldou os seus doze pães e
resignada, ao "desse lá por onde desse", lá levou os seus pães para
o forno da aldeia, no típico tabuleiro à cabeça.
E o MILAGRE aconteceu!… Os doze pães da Maria da Piedade saíram
do forno completamente diferentes do que jamais alguma Touloneira
fizera: eles saíram fofos, estaladiços, leves e a massa interior era
branquinha e super suave. Uma maravilha. |
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– “Oh
Maria da Piedade, Santo Deus… que fizeste tu ao teu pão?” –
Perguntavam umas.
– “Oh Maria da Piedade, quem te ensinou a fazer tal pão? Nunca vi
pão tão bom, parece pão Espanhol?” – Perguntavam outras.
O menino não tinha conseguido dormir, mas a sua avó entrou
disparada no quarto aos beijos à ele que, sem perceber, foi-se
juntando à alegria dela enquanto lhe contava o que se passou.
Daquele feito em diante ambos se riam e riam sempre que estavam
juntos e se lembravam desta peripécia de cumplicidade tão deliciosa.
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A Maria da Piedade
tornou-se na heroína do dia e da aldeia e ainda hoje rezam as
crônicas da panificação Touloneira como sendo a mulher que fazia
o pão mais saboroso de Toulões.
– “Oh Maria da Piedade, qual é o teu segredo para fazer este
pão?” – Esta pergunta ecoou sem nunca ter tido resposta, pois
era um dos seus segredos mais íntimos.
A verdade é que a esperta senhora nunca revelou o seu
mistério a ninguém. Até hoje, só os dois sabiam. E é, pois, em
memória desta terna avó materna que foi revelado este segredo
que curiosamente se aplica em quase tudo na vida: |
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“A Perfeição… é
simplesmente o resultado de um pouquinho mais
de Tempo e de Trabalho.” |
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